Síntese Plástica das Revoluções Utópicas (parte 1) - Alegoria Histórica Narrada pelo Autor
Um tríptico se caracteriza por uma idéia pintada em três peças. As laterais normalmente abordam imagens introdutórias e de epílogo, enquanto a cena central é o tema em si. Esse formato era muito popular nos fins da Idade Média e início do Renascimento como forma didática de narrar cenas sacras que depois derivaram para outros temas.
O tema foi escolhido como forma de discursar sobre quatro revoluções que, pelo seu desenrolar e seus ideais, nos remetem a feitos dos Romances de Cavalaria. Na verdade a pintura coloca o assunto na forma alegórica e heróica, sendo o tema exposto em suas múltiplas faces simultaneamente em um só espaço.
O Local:
Um espaço fictício, quase surreal, onde a atmosfera se confunde com as personagens, dando assim uma idéia de sonho e romantismo dramático.
Quadro da esquerda:
O Cenário:
Um espaço composto de armas e utensílios e armas no primeiro plano, uma pira com a Chama Crioula e a bandeira com as cores do Rio Grande. Um gaúcho anônimo, postado a contemplar a cena central.
Símbolos e Personificações:
A cena é uma introdução ao assunto, no canto inferior, armas, adagas, boleadeiras, laço, esporas e o escudo Riograndense nos dão a idéia da personalidade do gaúcho, que ocupado com a lida, sempre está disposto a lutar por ideais.
A pira nos lembra o próprio ideal.
O gaúcho, postado de modo altaneiro e vigilante, não abandona a memória de seus feitos, vestido a caráter, um traje simples de trabalho que se tornou um uniforme de honra e tradição. Portando suas cores, de bandeira em punho evoca uma frase emblemática, “Essa Terra Tem Dono”.
Quadro Central:
O Cenário:
Como num palco de ópera, clima iluminado com planos definidos por perspectivas tonais.
Símbolos e Personificações:
A imagem é o tema principal, fazendo a narrativa que aborda as revoluções Farroupilha (1835-1845), a revolução Federalista (1893-1895), a revolução de 1923 (1923) e a revolução de 1930 (1930).
Em uma só cena, num só cenário desenvolvem-se atos de combates romantizados, bem como grupos e personagens que caracterizaram cada momento.
No canto esquerdo, embaixo, um gaúcho vestido ainda na sua maneira primitiva, dos anos de 1700, contempla os embates como que um profeta tendo visões futuras, acompanhado por um par de quero-queros vigilantes. Perto, uma chaleira e uma cuia de chimarrão, bem como o “fogo-de- chão”, seu farol inspirador para as histórias e poemas que hão de vir.
No canto esquerdo acima, como que esculpidos em um rochedo, dando ares de perenidade figuram alguns dos protagonistas dessas epopéias heróicas. Bento Gonçalves,Giuseppe Garibaldi, Gumercindo Saraiva, Honório Lemes, Assis Brasil, Flores da Cunha e Getúlio Vargas.
Ainda à esquerda, avançam uma “carga de lanças” Farroupilha, acompanhada de um “ lanchão” de Garibaldi que dão início à batalha.
No centro, um gaúcho montado, portando uma lança,brada um grito de insurgência iniciando a Federalista de 1893, à sua frente estão postados dois estereótipos das revoltas; um guerreiro Maragato e um Lanceiro Negro.
No centro direito, uma figura, quase confundida com as nuvens mostra uma imagem mítica, uma mulher portando na mão direita uma tocha como iluminação do ideal e na mão esquerda uma bandeira, a marca da liberdade. Acompanhada de um tropel de cavalos lembra o avanço de um temporal que a tudo varre.
Abaixo, um piquete Maragato de 1923 se posta na espera do confronto.
À direita, embaixo forças situacionistas de 1930 se opõe, numa visão surreal, a esse turbilhão revolucionário enquanto os gaúchos amarram seus cavalos no obelisco, no Rio de Janeiro.
Quadro da direita:
O Cenário:
Imagem enfocando quatro vultos homenageados, tendo como fundo a visão do Palácio do Catete e em primeiro plano uma mesa e uma ata de posse.
Símbolos e Personificações;
Ao centro, Flores da Cunha, João Neves da Fontoura, Getulio Vargas e Oswaldo Aranha, insurgentes, fizeram da revolução de 1930 uma nova era para o Brasil, dali surgiria uma nova e progressista constituição, embora de curta duração.
Acima, a imagem do Palácio do Catete, símbolo do poder central, figura como uma imagem de sonho.
Abaixo a ata de posse do novo e moderno governo.
Com essa cena, entramos no epílogo das grandes e utópicas revoluções do Sul que, desde as aspirações republicanas, passando por ideais morais até as cruzadas cidadãs, que muitas vezes não atingiram o êxito desejado, ficaram como marcos históricos e de referência.