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"Temos de sair dessa crise política em 60, 90 dias", diz Padilha - Zero Hora dominical

Domingo, 16 de agosto de 2015  

Créditos: Foto: Diego Vara / Agência RBS


Em um balcão da sala de reuniões de seu escritório de advocacia em Porto Alegre, o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, exibe 12 porta-retratos com fotos dos momentos mais marcantes de sua carreira. Em uma, está com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi ministro dos Transportes. É do dia da posse de FHC na Academia Brasileira de Letras. Na sequência, aparece ao lado da presidente Dilma Rousseff, que está de tailleur vermelho. Em outra, com ela e o vice Michel Temer.

Com vista para o Guaíba, o escritório, que ocupa todo o 12º andar de um edifício no Centro Histórico, é também um centro de efervescência. Em 2014, o local virou um bunker da campanha de Dilma. Enquanto a maioria do PMDB gaúcho se dividia entre Marina Silva e Aécio Neves, Padilha se desdobrava para convencer prefeitos e vereadores a trabalharem pela reeleição da chapa Dilma-Temer.

O conjunto de salas resume a história do Rio Grande do Sul em 12 telas encomendadas ao pintor Marciano Schmitz e que o ministro chama de “Síntese Plástica das Revoluções Utópicas”. Os líderes dessas “revoluções” foram retratados em cenas imaginadas pelo artista, com elementos sugeridos pelo ministro para representar a identidade de cada um. Padilha discorre sobre cada “revolução utópica” e confessa que ser governador já foi seu projeto. Não é mais:

– Minha chance teria sido em 2002, mas estudei a fundo a situação do Estado e desisti.

Aos 69 anos, casado com a advogada Simone Camargo, Padilha tem seis filhos de três casamentos. A mais velha, Christiane, tem 47 anos. A caçula, Elena, oito meses. Ministro de dois governos adversários, o engraxate nascido em Canela se formou em Direito na Unisinos e desabrochou na política como prefeito de Tramandaí. Foi secretário do Trabalho no governo Antônio Britto, deputado federal e ministro. Hoje, é um dos homens mais influentes da Esplanada.


A presidente Dilma Rousseff termina o mandato?

Penso que a vitória na eleição a coloca numa situação preservada em relação a movimentos golpistas. Até este momento, não se conhece uma vírgula que possa imputar qualquer crime à presidente.

Abrir um processo de impeachment é um movimento golpista?

Quando seria golpista? Quando aderíssemos a um processo sem a base exigida pela lei.

Hoje é golpe?

Hoje não existe nada.

As ruas podem derrubar a presidente?

Nós, do PMDB, lutamos para termos liberdade de expressão, assim como a presidente. Mais do que compreensão, o governo tem de ser humilde para colher das manifestações que não são orquestradas por partidos os recados para aperfeiçoar a gestão e os serviços.

É possível recompor a base no Congresso?

Tivemos uma posição do Senado contra acréscimos de despesas que teriam que de suportadas pelo cidadão. O Senado tomou uma posição marcante e faz com que a gente tenha possibilidade de pensar numa recomposição de base e da estabilidade política.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), virou o salvador da pátria?

Não. Vendo as decisões tomadas na Câmara com impacto no orçamento, o Senado adotou outra postura. Cada vez que se inviabiliza o governo, quem paga a conta é o cidadão.

Renan e governo, juntos, isolam o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)?

Renan não se aproximou, ele não quer participação no governo, não quer indicar ministro. Ele reuniu lideranças dos partidos, conversou com ministros e ofertou uma pauta positiva. Ela não está em vigência na Câmara, mas nada impede que haja uma conciliação.

A reforma política que a Câmara votou foi liderada pelo PMDB. Qual a sua avaliação?

A reforma política deverá ser mais ampla. Quem sabe uma Constituinte exclusiva, com pessoas que não estejam no mandato e que não se candidatarão depois. Seria o caminho, a vontade pessoal faz com que as pessoas não expressem na plenitude o que sentem na base.

A Constituinte poderia mudar o governo para o parlamentarismo?

Não se pode excluir nada. A Constituinte vale para discutir tudo. Alguém poderia pensar na monarquia, penso que tem de ser analisado. Se a gente abrir o debate, tem de ouvir o que realmente a nação quer.

Seria a saída para a crise?

A Constituinte demoraria muito. Temos de sair da crise política em 60, 90 dias. Temos de ter um horizonte para que os empreendedores, que fazem o país crescer, tenham um mínimo de garantia de que não haverá mudança nas regras do jogo a curto prazo.

Como sair da crise em 90 dias?

O PMDB se caracterizou por ser o fiador da governabilidade. O PMDB não é o senhor da verdade, o que temos é maior representação. E temos humildade para ouvir. A nação não vai perdoar a atual geração de políticos se não tivermos condições de criar a estabilidade política para sustentar a economia. Com estabilidade, o dólar cai, pode-se falar em retomada.

Uma das opções para a estabilidade seria o ex-presidente Lula como ministro?

Nunca ouvi falar sobre isso. Penso que ele não aceitaria. Quem foi presidente com a láurea que ele teve, dificilmente vai aceitar ser subordinado, até para preservar a instituição da Presidência.

Como é trabalhar com a presidente Dilma?

A presidente é uma pessoa que aprendi a admirar. É idealista. Como eu, persegue utopias políticas. Foi guerrilheira, presa, torturada, teve uma vivência que lhe deu tempero para enfrentar qualquer situação. Ela é uma gerente implacável, e tem feito esforços que resultam em ganhos importantes para o país.

O senhor recusou convite para herdar a vaga de Pepe Vargas (PT-RS) nas Relações Institucionais. Difícil alguém falar não para um presidente.

Quem disse não foi minha esposa (risos), temos uma filha de oito meses. Após a negativa, a presidente ligou para o Michel e disse: “Só tem uma pessoa capaz de resolver esse assunto. É você, Michel”. A gente conversou e aceitei ajudar. Michel e eu dividimos a missão, mas minha passagem é temporária. A questão dos cargos está encaminhada. A gente termina neste mês.

O senhor deixará a Esplanada ou apenas a articulação?

Continuo na Aviação. Vou dar, talvez, meio expediente na vice-presidência a pedido do Michel, porque vamos partir para uma articulação de conversar muito com Judiciário, Câmara e Senado. Esse diálogo tem de ser contínuo. A gente não pode acender a velinha para Santa Bárbara só quando vem a trovoada.

Tem de ter mais estômago, coração ou cérebro para negociar cargos e emendas?

A gente tem de ter o cérebro na geladeira e o fígado guardado muito longe (risos). É paciência e compreensão. Os parlamentares querem o máximo para prestar o melhor serviço, só que a demanda é superior à capacidade do Estado. Quem detém um cargo faz de tudo para não o entregar. Como dizia Guevara: “O poder ninguém entrega olimpicamente”.

O que decola antes: o governo Dilma, as concessões ou o plano de aviação regional?

O plano de concessões na aviação decolou, tem muitos interessados. A aviação regional é um programa para quatro anos. Então, vêm as concessões e, a seguir, a articulação do governo.

O senhor foi ministro de Fernando Henrique e está no governo de Dilma. Qual a diferença entre ser ministro do PSDB e do PT?

Fui ministro do PMDB no governo FHC e sou ministro do PMDB no governo Dilma. Sou fundador da legenda. Quando estou no governo, estou na plenitude, não tem coluna do meio. Não costumo comparar posições dos presidentes que me honraram com a distinção de representar o seu governo.

O senhor e o PT são rivais na trincheira estadual. É estranho dividir o mesmo governo?

Quando fui ministro do PSDB, recebi de parte dos petistas, à exceção do PT gaúcho, o reconhecimento por minha imparcialidade. Não é o fato de estar em um governo diferente, chefiado por um partido que faz oposição ao PSDB, que muda meu comportamento.

Seus mapas de votação na Câmara são famosos. O Congresso mudou muito?

Quando fiz esse trabalho há 18 anos, o líder do partido falava pela bancada, hoje, ninguém fala. Toda regra tem exceção, temos um partido da base em que o líder representa o todo, que é o PC do B. O líder era quem levava a posição política, agora cada um é uma entidade. Naquela época, a gente tinha seis ou sete partidos consistentes, hoje temos 32 no Congresso. Isso praticamente inviabiliza a gente conhecer o posicionamento ideológico das bancadas.

Dilma errou ao não apoiar Eduardo Cunha na disputa pela presidência da Câmara?

Não digo isso. Penso que o partido e a bancada, e nunca a presidente, deveriam avaliar fatores positivos e negativos de uma vitória ou derrota. É uma lição preliminar do processo político: sempre que a gente entra em um ambiente de conflagração, temos de ver se tem porta de saída, e quantas são. Neste caso, se formou um bloco poderoso em favor de Eduardo Cunha.

Que fenômeno é Eduardo Cunha?

Eduardo é uma pessoa singular, uma mente privilegiada. Ele é pragmático ao extremo, quando toma uma causa como sua, vai às últimas consequências. Pessoas que se habituam a ser bem-sucedidas, acabam em determinado momento pensando que podem superar tudo, e criam obstáculos que levam muito tempo para serem contornados.

Como Eduardo Cunha e o PMDB vão sair da Lava-Jato?

Tenho certeza absoluta de que na tesouraria do PMDB não entrou um centavo de qualquer tipo de relação com as pessoas envolvidas nesse processo. Se pessoas receberam ou não, os fatos é que vão determinar. A responsabilidade será das pessoas, nunca do partido.

A investigação indica que Fernando Baiano era o braço do PMDB no esquema.

Ele não é braço do PMDB, ponto. Disso eu tenho certeza. Ele pode ter relação com algum peemedebista. Entre isso e dizer que ele é o PMDB, vai uma distância igual daqui até a Lua.

O político denunciado na Lava-Jato tem condições de se manter presidente da Câmara, como deve ocorrer com Eduardo Cunha?

Ainda não há a denúncia formal, então vamos pensar sob hipótese. A denúncia é o início de um processo, não é o fim, não é a condenação definitiva. Logo, não tem porque afastar-se.

O senhor conhece a realidade do Estado. O Rio Grande do Sul tem solução?

Tem, sim. Não poderemos fugir das soluções dadas por Estados europeus como Espanha, Portugal e Grécia. O governador Sartori chegou com essa conta pronta, e, agora, tem 100% de responsabilidade para resolver, algo injusto. As leis do Estado impõem ao governo custos que ele não pode suportar. A população fala através do Legislativo, então o que pode resolver é, primeiro, um pacto que envolva todos os segmentos da sociedade para se tomar decisões que alterem o custeio e a receita do Estado.

Por que até hoje não andou esse pacto?

Porque nós, gaúchos, somos chimangos ou maragatos, gremistas ou colorados. Em política, infelizmente, nós somos a favor ou contra.

Isso vai mudar algum dia?

Terá que mudar. Caso contrário, cada um e todos os gaúchos continuarão pagando a conta. Se continuar com as dicotomias entre governo e oposição, não vamos chegar à solução. Penso que terá de haver dois movimentos, um de redução de despesa e outro de aumento de receita, que não serão muito bem assimilados. Por quê? Porque teremos de cortar vantagens em setores que, tradicionalmente, conquistaram estes benefícios.

O socorro não virá do governo federal?

Posso dizer que a emergência que vive o Rio Grande é vivida por muitos Estados e, inclusive, pelo governo federal. A solução terá de ser construída pelos próprios gaúchos. O governo federal, depois, poderá auxiliar.

Em hipótese, se o senhor fosse o governador, que medida adotaria?

Não vou ser governador. Teve um tempo em que até sonhei em ser governador, mas faz mais de 10 anos. Antes, estudei a história e as finanças do Estado, e vi que estávamos diante de uma desestruturação fiscal implementada no curso de quatro décadas.

Estudou há mais de 10 anos?

Por volta de 2002. Se fosse disputar uma eleição para governador, seria em 2002, pois eu saía do Ministério dos Transportes com muitas obras em andamento no Estado: porto de Rio Grande, metrô, duplicação Tabaí-Canoas. Conhecendo a situação em que se encontrava o Rio Grande, àquela época, nem alimentei a ideia de ser candidato.

Seu discurso é de candidato. Qual o seu futuro político?

Cumprir o papel em que estou e depois cuidar da minha vida. Faço política há mais de 50 anos, sou fundador do MDB, fui ministro, secretário, prefeito, deputado. Penso em não voltar a disputar eleição, há pessoas mais jovens na fila. Pretendo continuar na fundação Ulysses Guimarães, uma escola de política e políticos.

Na eleição de 2010, o senhor foi suplente na Câmara. Pensou em se aposentar?

Construí meu escritório em Porto Alegre entre 2008 e 2010, porque já pensava em voltar para a atividade privada. Tanto que o Alceu Moreira, que era minha dobradinha, ocupou minha base e se elegeu. Em fins de julho, faltavam candidatos, eu tinha gordura para queimar e me candidatei. Acabei perdendo o voto de opinião, anti-PT.

Seu nome apareceu na Operação Solidária, que investigou fraudes em licitações. Qual impacto na sua carreira?

A Operação Solidária foi uma autêntica armação. Foram constituídos cinco inquéritos de uma mesma investigação, o objetivo era me enredar mesmo, mas esqueceram que eu era advogado. Os cinco foram anulados no Supremo Tribunal Federal. Não acredito que polícia e Ministério Público sejam passíveis de influência política, o que pode ter havido, no máximo, é alguma orientação de chefia para dar mais ou menos atenção ao fato. No que tange a mim, a operação nasceu de duas denúncias anônimas. Por óbvio, houve outros interesses.

O que lhe aproximou de Michel Temer?

Quem me apresentou o Michel foi o Nelson Jobim em 1988. Eles trabalhavam na Constituinte, quando eu discutia com Eduardo Ferrão e Jobim para montarmos um escritório em Brasília. Sairia da prefeitura e cuidaria da vida como advogado. Só que fui eleito deputado, cheguei à Câmara em 1995, o Michel era o líder do PMDB e pedi alguma tarefa para fazer. Ele me pediu para fazer um retrato da bancada, como faço até hoje. Em 60 dias, tinha o retrato.

O que constava no retrato?

É como faço até hoje: origem do deputado, se foi líder estudantil, de sindicato, de movimento religioso, quantos partidos teve. Quando tu vais pensar em alguém que resiste politicamente, vê quantas vezes ele mudou de partido. E o retrato traçava rigorosamente como o PMDB ia se comportar. O Luís Eduardo Magalhães (morto em 1998) era presidente da Câmara, gostou e pediu o retrato dos 513 deputados. Aquilo chegou aos ouvidos de Fernando Henrique.

Eliseu Padilha é o conselheiro de Michel Temer. Quem é o conselheiro de Padilha?

É minha mulher, Simone Camargo, e o meu filho Robinson. Simone vive os 360 graus de minha vida. Por óbvio, tenho conselheiros políticos no Rio Grande e em Brasília.

Como é conviver com Temer?

É um homem erudito, muito bem educado e, ao mesmo tempo, simples. Esse episódio em que ele falou que “alguém” teria de reunificar o país acabou prestando-se a especulações que o deixaram chateado. Michel disse a Dilma e aos outros ministros que não age à sorrelfa.


Fonte: Zero Hora - Notícias - Com a Palavra - Pág. 8 - 16/08/2015
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/08/temos-de-sair-dessa-crise-politica-em-60-90-dias-diz-padilha-4825579.html


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