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"Não terá aumento da carga fiscal", diz Eliseu Padilha

Domingo, 22 de maio de 2016 por Correio Braziliense  

Créditos: Minervino Junior/CB/D.A Press
“O diabo sabe não porque é sábio, o diabo sabe porque é velho.” Com a foto oficial de Dilma Rousseff adornando o gabinete do 4º andar do Palácio do Planalto, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, saca a frase do poeta argentino José Hernández para explicar as diferenças entre o governo da petista e o do recém-inaugurado por Michel Temer. Com o círculo próximo formado em sua maioria por políticos experientes, alguns na casa dos 70 anos, Temer aposta em nomes escaldados no Congresso, como Padilha, para vencer o principal problema da gestão passada: o relacionamento com a Câmara. “Não sou um aprendiz nesse tema”, afirma.

A experiência política tem que promover resultados em um curto espaço de tempo. Em entrevista ao Correio, o gaúcho Padilha garante que não haverá criação imediata de um imposto ou aumento de carga tributária, mas enumera prioridades econômicas e reformas necessárias — como a previdenciária e a trabalhista — tão urgentes quanto dependentes da colaboração dos parlamentares. Não por acaso, Temer teve de assentir, meio a contragosto, André Moura (PSC-SE) na liderança do governo na Câmara, “uma indicação da maioria dos líderes”. O político é o principal aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na Casa. “Quem não admitir que Eduardo Cunha é o principal eleitor da Câmara está enganado”, avalia Padilha, lembrando, entretanto, que “a influência de Cunha no Legislativo não tem reflexo no Executivo”.

A política local também não foi esquecida. Padilha se refere a Tadeu Filippelli como o nome de destaque do partido na capital. Com um sorriso maroto, não deixa de afagar Cristovam Buarque, hoje no PPS: “Vamos supor que o Cristovam quisesse ir para o PMDB, seria um bom candidato.” Sobre o retrato de Dilma com a faixa presidencial, Padilha é taxativo: “Hoje, ela ainda é presidente da República”. Porém, considera difícil o retorno: “Tivemos mais de dois terços. Do garçom ao empresário, há um sentimento de alívio pela mudança”. Durante a entrevista, Padilha garantiu que a Cultura não voltaria a ser uma pasta, inclusive deu a resposta com base em pesquisas de opinião que mostravam apoio da população à medida. Ontem à tardem, no entanto, o governo divulgou que o Ministério da Cultura será recriado. Leia, a seguir, os principais trechos:


Minervino Junior/CB/D.A Press

Nessa primeira semana, qual foi o principal problema que o governo Michel Temer encontrou?
Quando se toma posse sem o processo de transição em que não há o repasse de informações, não é a situação desejável. Mas temos experiência. E aí vale se lembrar da frase do personagem Martin Fierro: “El diablo sabe por diablo pero más sabe por viejo”. Já passei por vários ministérios, por secretarias de Estado, foram anos dentro da Câmara convivendo com o processo legislativo. A gente sabe onde buscar as informações. Quando você não as tem em um órgão, como é o nosso caso, que é intermediador, busca-se na ponta. Mas, em muitas áreas aqui da Casa Civil, encontramos, sim, informações. Por exemplo, no caso das Olimpíadas, tem aqui, na Casa Civil, e lá no Ministério do Esporte, uma equipe. As pessoas permaneceram e têm a memória por inteiro das Olimpíadas. Ela não está só nos subsidiando, como está na condição de ser norteadora do processo. Bom seria se tivesse havido uma transição, mas compreendo as circunstâncias políticas que fizeram com que isso não acontecesse.

Henrique Meirelles afirmou que também não teve problemas em obter informações. Existia um receio de o governo Temer ser sabotado?
Como regra geral, não. Talvez, em algum ministério, houve. Parto do pressuposto de que o servidor de carreira não serve ao partido do governo. Ele serve ao Estado, e daí o compromisso com a manutenção das informações, inclusive, para manutenção da própria carreira. Aqui, no meu caso, compomos o nosso grupo diretor, que são os subchefes e adjuntos e a secretaria, com pessoas marcantemente de carreira. As únicas áreas em que trouxemos as pessoas são a comunicação social e a jurídica. Portanto, dei e dou preferência absoluta ao servidor de carreira e, com isso, a gente tem a memória mais ou menos garantida. Quando eu necessitar de algum assunto que aqui na Casa Civil não exista, se vê o ministério que é a ponta, e se demanda entre os servidores de quadro. Porque esses cargos de confiança, de pessoas que entram e saem, são proporcionalmente muito poucos. É um número muito pequeno. Ao sair, a memória fica nos cargos de carreira de Estado. Então, não tivemos o temor. O que havia era uma expectativa fruto de especulações. Encontramos muito melhor do que acabamos sendo induzidos a pensar — algo fruto da guerrilha, da luta política que se estabeleceu.

Houve uma reação muito forte em relação à ausência de mulheres, de negros…

Deveremos ter no curso da implantação do governo a representação desses segmentos que, em um primeiro momento, aparentemente, não foram indicados pelos partidos. Agora, chegou a vez de o presidente, na disponibilidade que ele tem, de todos os cargos do Poder Executivo, fazer solicitações como fez, no caso das mulheres. Acabamos tendo mulheres brilhantes ingressando em postos da mais alta relevância. Teremos agora também a questão dos negros. Seguramente, vamos ter participação no Ministério da Justiça, em posição de relevância. Então, aquilo que não foi possível fazer por meio das indicações políticas num primeiro momento, o presidente determinou que fosse corrigido progressivamente para que a gente tivesse todos os segmentos da sociedade representados. Mas os clássicos, que foram esses referidos, a gente terá. Por exemplo, aqui na minha equipe de subchefe da Casa Civil e adjuntos, tenho maioria esmagadora de mulheres.

Foi um erro? Como o senhor avalia esse esquecimento?
Não houve esquecimento. Vamos lembrar que a Ellen Gracie foi convidada para ser ministra da CGU, no ministério da transparência. Outra mulher também foi convidada para ser ministra na AGU. Buscamos, mas naquilo que dependia da indicação dos partidos, a autonomia era deles. Mas, e a questão dos notáveis? Na cabeça do presidente, era para ter Pedro Parente, Maria Silvia, Meirelles, Romero Jucá, que é altamente qualificado. Então, estávamos pensando que os partidos trariam também pessoas com qualificação específica para a atividade daquele ministério. Não foi assim na visão do partido e era dele essa decisão. Aquele indicado é o notável para aquela função. Essa é uma questão política complexa porque muitas variáveis são levadas em consideração. Admitimos que, na visão do partido x, que indicou a pessoa y, é a pessoa mais “notável”, dentro da visão daquele partido.

Não necessariamente para o governo?

Por exemplo, isso foi público. O presidente Michel pediu que se nomeasse um médico de reconhecimento nacional e internacional para ministro da Saúde. Até houve contatos, mas o partido que faria a indicação do ministério entendeu que queria um quadro seu, marcadamente seu, com filiação partidária, com história dentro do partido. E, diga-se de passagem, no caso da Saúde com Ricardo Barros, não vejo, num primeiro momento, prejuízos. Porque ele se consagrou dentro do Congresso como um excelente manejador das questões orçamentárias, foi um bom gestor. E, eu pessoalmente, fui prefeito quando 29 municípios no Brasil municipalizaram a saúde. Eu fui um dos que municipalizei e me atrevo a dizer que o principal problema de saúde é de gestão. O ministro José Serra foi um dos melhores ministros da Saúde da história do Brasil e ele não é médico. É um gestor de mão cheia. Ele é um grande gestor e fez uma excepcional gestão. Não podemos deixar de reconhecer que os partidos podem revelar pessoas que têm ampla competência. E sei também que, se isso não se revelar relativamente em um curto espaço de tempo, o partido vai ter que repensar. E essa é a função da Casa Civil. Todos são de livre indicação do presidente, mas, como ele delegou aos partidos a indicação, nestes que foram indicados pelos partidos e naqueles que foram indicados por ele, pode fazer as modificações.

Alguns ministros, como o da Saúde e Justiça, deram declarações que acabaram desautorizadas.
Eu recebi do presidente Michel a delegação de, nesses casos, contatar os ministros. Então, eu talvez tenha elementos que não são tornados públicos com relação a isso. Mas eu posso garantir que os ministros, nas declarações que fizeram, tinham suas convicções sobre o ponto de vista técnico, que, em tese, a gente poderia até discutir publicamente, e eles talvez conseguissem convencer de que estavam acertados naquilo que disseram, e na forma como disseram. Em um caso, a declaração foi vista como sendo uma tentativa de enfrentamento a uma organização. Em outro, o que o ministro da Saúde quis dizer é que tinha que fazer com que o SUS, com o tamanho que tem, atendesse mais, e que tem que reduzir o custo. Eu conversei com ele e disse que foi mal-interpretado. Só que, às vezes, tem a forma como a gente vai dizer determinadas coisas dada a ânsia. Mas é melhor que a gente consiga segurar uma declaração que possa permitir uma interpretação dúbia. Mas isso a gente vai aprendendo. E posso garantir que o que se constatou até agora foram pequenas derrapadas de interpretação.

Minervino Junior/CB/D.A Press

O senhor já fez o levantamento dos cargos?

O PT era o partido que mais tinha cargos em todo o Brasil. Em alguns estados, tinha mais do que a soma de todos os aliados. E compreensivelmente. Houve o erro de política na compreensão do termo, mas, no campo da ocupação do espaço, eles foram inteligentes. Foram impondo condições. Quem se submeteu a uma posição subalterna ficou. E ficou bastante tempo. Acho que quem errou foi quem se submeteu. Na política, é natural que haja essa tentativa ao totalitarismo político. Querer ter todos os cargos é natural num partido. Tem sempre muito mais gente esperando cargos.

O governo se surpreendeu com a meta fiscal anunciada?
Se formos memorar, a previsão inicial era de um superavit, depois foi encaminhado ao Congresso um pedido de conversão para um deficit de R$ 96 bilhões. Ocorre que a receita prevista da CPMF não existe, a receita prevista para a repatriação das capitais é inexpressiva, pouco mais de R$ 4 bilhões. São apenas duas referências, eu não falei da dívida dos estados, não falei da questão da Eletrobras. O presidente Michel, com a equipe econômica, quer que a meta seja cumprida, o governo quer levar à sociedade apenas as coisas que efetivamente for fazer. Não podemos, de tempos em tempos, fomentar a instabilidade, a insegurança, se quisermos recuperar a confiança da sociedade e dos nossos parceiros internacionais. Temos que mostrar o conhecimento, que estamos no voltante do rumo do Estado, que sabemos para onde ele vai e isso nós demonstramos nas decisões que são tomadas.

Ministro, a foto de Dilma ainda está na parede do gabinete...
Nenhum problema. Primeiro que ninguém registrou nenhuma manifestação minha que fosse contrária à presidente Dilma, inclusive, tenho gratidão a ela pela distinção que me deu, pela distinção com a qual sempre me tratou nas nossas relações. No dia em que eu pedi para ser exonerado, ela compreendeu completamente as minhas razões, o clima foi de pessoas que se tornaram amigas. Então, em relação a ela, tenho um respeito pessoal. E, como diz o presidente Michel, além de um respeito pessoal, um respeito institucional. A foto é uma iniciativa que eu considero de absoluto respeito institucional, hoje ela ainda é presidente da República, então, como respeito institucional a ela, na nossa primeira reunião de ministros, o presidente Michel baixou a ordem de que as fotos ficassem no mesmo lugar e quem havia removido teve que voltar.

Minervino Junior/CB/D.A Press

Dilma tem chances de retornar?
Sob o ponto de vista jurídico, é plenamente possível. Sob o ponto de vista político, é extremamente difícil. Tivemos, na Câmara, mais de dois terços. Tivemos a primeira etapa no Senado com mais de dois terços e nós temos um número considerável de votos que não tivemos na votação e que teremos agora no Senado. Vamos aumentar o número de votos, isso por um lado. Por outro lado, a gente nota que, do garçom ao grande empresário, há um sentimento de alívio pela mudança. Não pretendo aqui capitalizar em decorrência dos nomes que representaram as mudanças de governo, mas esse alívio foi pela mudança, e queremos fazer com que se converta em esperança e em constatação de que se tem rumo, daí o quadro que está sendo montado pelo presidente Michel e, especialmente, ministros da área econômica. Estamos vendo crescer esse sentimento original de que mudou e está melhorando.

Nesses primeiros movimentos do Congresso agora, como a escolha do líder, por exemplo, Eduardo Cunha mostrou força...
Quem não admitir que o Eduardo Cunha ainda é o maior eleitor da Câmara está enganado, ele é sim. Se isso é o bastante para garantir a ele a continuidade da Presidência da Câmara, o tempo mostrará. Se isso será o suficiente para garantir a ele a vitória no Conselho de Ética, o tempo vai mostrar. O que eu sei é que a influência dele no Legislativo não tem reflexo no Executivo, onde ninguém pode colocar em dúvida a liderança total do presidente Michel Temer.

Por que o governo Temer não consegue se afastar do Cunha?
Primeiramente, o governo não está próximo do Cunha. Ele disse na quinta-feira, em seu depoimento, que não tinha um alfinete dentro do governo. O Cunha é um deputado do PMDB e, antes de ser vice-líder do Henrique Eduardo Alves, ele frequentava, quase que diariamente, a casa do presidente Michel Temer. Quando ele se converteu primeiro vice-líder do ministro Henrique, ele continuou frequentando. Quando ele se fez líder, passou a frequentar muito mais. Porém, quando se tornou presidente da Câmara, ele mesmo criou um afastamento, talvez para adotar a posição de independência que ele defendia na Câmara. Nem sempre essa posição de independência dele correspondeu ao que pensava o PMDB, tanto que ele estava em um enfrentamento direto com o governo quando o vice-presidente Michel e eu fazíamos articulação política e aprovamos a primeira fase do ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy (ex-titular da Fazenda). Ele ainda visita o presidente Michel Temer — em uma periodicidade muito menor —, continua participando dos atos do partido, ele é um peemedebista ativo e a relação que existe hoje é uma relação institucional.

Não há indicação de Cunha no governo?

Não conheço nenhuma indicação dele. Ele mesmo disse que não tem um alfinete dentro do governo.

Como o André Moura ganhou a liderança do governo?

André Moura não é integrante do governo, é um deputado escolhido pela maioria da base e converteu-se no líder do governo lá, na Câmara.

Mas isso com um desgosto do PSDB, PSB, DEM...

Até um dia antes da decisão, o ministro Geddel (Vieira Lima, da Secretaria de Governo) trabalhou arduamente para que tivéssemos um tertius. Tinham duas opções (André Moura e Rodrigo Maia) e não podemos esquecer uma premissa: há uma independência entre os poderes Legislativo e Executivo, mesmo entre os partidos que integram a base. Para as ações típicas da Câmara, não há qualquer possibilidade de interferência. A democracia é um regime da maioria, não da totalidade. Geddel tentou entre os dois candidatos um terceiro nome que pudesse ser a expressão dos dois grupos. Eu participei de três reuniões para tentar construir o consenso. No dia que antecedeu, os líderes estiveram comigo e com o presidente quase até a meia-noite discutindo isso, tentando o tertius. No outro dia pela manhã, ainda antes das 9h, houve ainda uma conversa. E depois, lá pelas 10h, vieram os líderes representando a maioria da base e disseram que indicavam para a liderança o André Moura. Poderia o presidente Michel Temer ter dito que não aceitaria a decisão da maioria da base? Isso seria um enfrentamento e teríamos que discutir uma outra solução para garantir as votações necessárias para fazer o ajuste da meta. Então, o presidente, que é uma pessoa que zela pela independência dos Poderes, pelas decisões da maioria, acolheu que o líder fosse o indicado pela maioria.

Essa falta de enfrentamento não fará de Temer, num futuro próximo, refém da base no Congresso?
O presidente foi três vezes presidente da Câmara, parlamentar em tantas legislaturas, um jurista respeitado. Geddel, que cuida da política e é uma das figuras mais bem-sucedidas dentro da Câmara, é um líder do PMDB experimentado. E eu não sou nenhum aprendiz nesses assuntos. Nesse caso da disputa do poder, nós, como governo, saberemos o momento de dizer não. O Executivo não pode andar a reboque de poder nenhum. A conveniência política sempre será ditada pelo juízo do presidente Michel e pelas pessoas que estão mais próximas no Executivo. O governo tem um rumo, se esse rumo for comprometido, tenha certeza que serão adotadas as medidas correspondentes.

Quais as prioridades no Congresso, além da meta e da DRU?
Estamos discutindo as reformas da Previdência e trabalhista.

Mas isso precisa de maioria.
A gente propôs às centrais sindicais a discussão concomitante dos temas. Na última reunião do grupo de trabalho, foi solicitado que a gente não discutisse ao mesmo tempo os dois temas. Então, estabelecemos um cronograma. O pressuposto desse grupo de trabalho é que o governo não quer nem apoio nem adesão a um projeto que o governo tenha. O governo não tem projeto nenhum e as centrais, se tiveram, também a partir daquele momento (da primeira reunião) não tinham projeto nenhum. Qual é a nossa pretensão: é de, com muitas mãos, construir de forma colegiada o que vai ser um projeto que já estará aprovado por aqueles segmentos que aqui estarão representados.

Ou seja, juntar centrais, empresários...
Empresários, governo, deputados... O presidente Michel Temer pediu a indicação de parlamentares. Por quê? O PSD mineiro, entre 1940 e 1970, se celebrizou pela frase: “A gente combina tudo e depois reúne”. Queremos combinar tudo para depois reunir as pessoas. No caso, no Congresso. Mas é uma construção conjunta, senão não tem significado constituir esses grupos. Queremos o sentimento de que se está construindo o melhor projeto sob todos os aspectos. O governo está desarmado de qualquer pressuposto. E pedimos que os lados também coloquem as armas no chão. Não falaremos agora em idade ou contribuição. E eles não falarão em nada agora. E depois, falaremos todos sobre tudo, tendo uma palavra como meta: a sustentabilidade do sistema previdenciário. Como vamos chegar lá? Estamos abertos a sugestões, mas temos de ter certeza de que vamos chegar, porque no fim do mês teremos de pagar os aposentados.

A sustentabilidade exclui a tese de que podem ser mudanças apenas para quem entrar no mercado hoje?
Há uma confusão entre o que disse o presidente Michel Temer e o ministro Henrique Meirelles. O presidente disse que não haverá mudanças para quem já tiver o direito adquirido. Quando há direito adquirido? Quando você preenche os pressupostos para aposentadoria. Meirelles não trouxe o termo jurídico correto, mas ele disse que, durante a expectativa de direito, pode sim haver mudanças nas regras, e aqui devem ser construídos critérios para transição. O tratamento para quem tem cinco anos de contribuição em relação a quem tem 25 anos precisa ser diferente. Vamos construir um período de transição. Quem entra terá a regra nova aplicada integralmente. Não é algo que resolveremos do dia para a noite, mas no curso de um tempo relativamente longo.

A regra dos 85-95 para aposentadoria não é o suficiente?
Não é. Temos uma inversão na pirâmide etária da população. A expectativa de vida vem aumentando e vamos ter, em pouco tempo, três vezes mais pessoas recebendo a aposentadoria do que contribuindo. Por duas razões: aumenta a expectativa de vida, e as famílias que há 20 anos tinham em média quatro filhos, hoje têm 1,7. Teremos entrado no mercado com um número menor de pessoas, e fazendo jus à aposentadoria um contingente maior. O sistema é complexo e a decisão precisa ser pensada.

A CPMF ou o aumento na Cide são viáveis?

Hoje, é absolutamente impossível qualquer aumento da carga tributária. Mas temos que sinalizar que estamos adotando medidas para corrigir os equívocos fiscais. Estamos gastando mais do que recebendo. O governo terá de fazer isso. Depois disso, pode sim chamar a sociedade para discutir, programarmos em quanto tempo vamos superar o deficit nas contas públicas. Se for em um longo tempo, não precisa de imposto, mas isso significa perdas na educação, na saúde. Então, se quisermos mais cedo, aí precisaremos ter uma contribuição, temporária, pelo período necessário para recompor as contas públicas. Temos uma das maiores cargas tributárias dos países em desenvolvimento e há um limite para a capacidade contributiva da população. Ultrapassar esse limite não significa aumentar a arrecadação, porque leva as pessoas à informalidade.

E a dívida dos estados?
Teremos de fazer algum tipo de negociação. Depois de sair da questão da meta, a próxima discussão será essa. A União vai condicionar a renegociação, com vantagens para os estados, na medida em que eles cumprirem determinadas metas. Senão, apenas vamos transferir o problema para mais adiante.

Há exemplo sobre o que pode ser repactuado?
Eles querem moratória, mudar a forma de cálculo dos juros. A União, nesse caso, não tem condições infinitas. Algumas coisas positivas serão feitas. Senão, alguns estados não pagam a folha de pagamento em dois meses. Mais da metade dos 27 têm problemas dessa ordem ou terão até o fim do mês.

A Lava-Jato exagerou em relação a ministros citados ou investigados?
Acho que não. Eu sou advogado e não tenho nenhuma restrição do que aconteceu até agora. Para a sociedade, fruto das mídias on-line e da mídia em geral, quando alguém é citado parece que ele já está condenado. Se formos verificar o procedimento, primeiro tem a investigação, anterior à denúncia, depois o inquérito. Cerca de 90% dos inquéritos não levam à condenação. Tem o inquérito, a denúncia, aí é que começa o processo e o acusado tem amplo direito de defesa. Então, não nos preocupa no momento pela posição em que se encontram as menções e acusações. O presidente Michel Temer teve o cuidado de conversar com todos os citados, e foi explicado a ele de que esse tema não se converterá em um processo ou em uma condenação.

Empresas foram abaladas pela Lava-Jato e estão com dificuldades de concluir obras. O governo vai se envolver nos acordos de leniência?
A sociedade vive um momento em que a geração e a manutenção de emprego são indispensáveis. O lema do governo é “Ordem e Progresso”. A ordem significa a estrita observância da lei, obedecendo os padrões legais. O governo fará de tudo para que se gerem ou que se mantenham novos empregos, e aí entra o acordo de leniência. O presidente já manifestou preocupação no que está em vigor hoje. Ainda não foi considerada a participação do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União. Ele já pediu um estudo e tem a preocupação para que não se venha a ajustar, contratar ou selar qualquer acordo de leniência que acabe questionado na Justiça e considerado sem eficácia.

No caso da CGU, houve a grita dos servidores em relação à transformação do órgão em ministério.
Essa discussão é irrelevante, não se mudou uma vírgula nas atribuições do novo ministério.

Então, por que se mudou o nome e a CGU virou ministério?
Porque nós não temos mais nenhum ministério ligado à Presidência. A Casa Civil, a Secretaria de Relações Institucionais e o GSI estão no Planalto, mas nós não temos nenhum ministério fora ligado à Presidência. Mudou-se porque se chegou a uma conclusão de que teria mais autonomia como ministério independente. Não se mudou em nada as atribuições, não existe uma vírgula de mudança. Reputo a manifestação dos servidores como legítima, realmente há uma distinção em estar diretamente vinculado à Presidência, mas, com relação ao processo de fiscalização, a CGU também tem como razão a prevenção, não é apenas buscar o que está sendo objeto de investigação. Não houve perda nenhuma de função ou atribuição, nada, zero.

E a Cultura, alguma chance de voltar a ser ministério?
O que faz com que determinada área do governo seja eficaz não é o título de ministério. A Cultura esteve com a Educação durante décadas, e não é o título que vai dar maior ou menor permeabilidade na sociedade, o que vai dar são os recursos orçamentários e os programas. Sem dinheiro ou sem programa, pode ser ministério ou secretaria, não vai ter nenhuma eficácia. Apesar de não ser mais ministério, todos os programas foram mantidos e todas as rubricas orçamentárias foram mantidas. E o presidente já disse que a tendência é aumentar a dotação da Cultura pelas ponderações que o ministro Mendonça Filho trouxe a ele. A redução no número de ministérios também tem um efeito simbólico. Temos que aumentar a eficiência, independente de ser ministério ou secretaria. Temos medição de opinião pública, a nossa decisão foi aprovada por 90% da população.

Como enfrentar o toma lá dá cá no Congresso?
Não podemos ignorar que o país está adquirindo uma consciência cidadã progressivamente. A informação sobre o processo político administrativo, as responsabilidades sobre os agentes públicos. A Lava-Jato produziu uma transformação muito grande nas exigências da população em relação aos agentes públicos. Quem não se deu conta disso seguramente não está caminhando no rumo da sua reeleição, no rumo da satisfação pública e poderá até ter problemas pessoais. Enquanto o povo pensar uma coisa e o Congresso tentar fazer outra, me faz recordar uma frase de Ulysses Guimarães: “Político só tem medo de uma coisa, do povo na rua”.

O PMDB em Brasília tem chances nas eleições?
Eu acho que sim. O PMDB aqui, vamos pensar no Roriz lá atrás, está meio que no DNA do brasiliense. Tendo um nome razoável, eu acho que tem chances, e o nome que se destaca aqui é o Tadeu Filippelli.

Ele é o candidato então?
Não, eu disse que ele é o nome que se destaca. Pode ser que ele resolva colocar um candidato, um senador. Colocando uma hipótese, vamos supor que o Cristovam (Buarque) quisesse ir para o PMDB, seria um bom candidato.

E quanto aos servidores públicos, alguma chance de aumento para eles?

Tem um acordo feito para aumentar 5% neste ano, esse acordo vai ser honrado.


Fonte: Correio Braziliense - Brasil / Política - 22/05/2016
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2016/05/22/internas_polbraeco,533005/nao-tera-aumento-da-carga-fiscal-diz-eliseu-padilha.shtml



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